sexta-feira, 11 de maio de 2018

Sustentabilidade - A água de Nova York e de Extrema

A água de Nova York e de Extrema

Garantir recursos básicos, como água potável, é uma das premissas de uma cidade inteligente

      Há muito se sabe que o petróleo corre riscos de acabar, o mesmo ocorre com a água para consumo humano. Mas, ao contrário do que ocorre com o petróleo, não é possível diminuir a quantidade de água que os humanos bebem, nem criar uma nova substância que mate a sede. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem divulgado relatórios informando que teremos falta de água potável em um futuro próximo. O último deles, apresentado em Março no Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos, aponta que até 2030, haverá um déficit de 40% de água potável.
       Ante às dificuldades enfrentadas recentemente em São Paulo, o estado mais rico da União,  o país viu que o problema da água é sério e atinge a todos, inclusive a população brasileira, que mora em um país que detém a maior reserva de água doce do planeta.
    Medidas para combater o desperdício são indispensáveis para aliviar o problema. Controlar vazamentos, instalar redutores de pressão nas residências, diminuir ou acabar com gastos supérfluos, reaproveitar água para tarefas que não demandam água potável. A Sabesp, empresa do governo paulista que faz a gestão da água no estado de São Paulo, por exemplo, realiza a redução de pressão nas tubulações da rede de distribuição desde 1997.
       Entretanto, especialistas têm apontado que para garantir água no futuro é necessário mais do que isso. Proteger o ciclo da água é essencial para garantir a água. E um dos principais passos é proteger a água e seus mananciais.

O exemplo de Nova York

       Dados da ONU mostram que os valores investidos na proteção de áreas de captação de água para consumo humano geram uma economia de 200% em gastos com tratamento de água. Ou seja, é muito mais vantajoso cuidar da água no início do seu ciclo do que no final.
       Esse foi o caminho adotado por Nova York. No início da década de 90, enfrentando problemas para obtenção de água, iniciou um amplo programa para recuperação de nascentes, muitas delas localizadas a 200 km de distância da cidade.
       Fechou parceria com proprietários de terras e também adquiriu nascentes. Um grande trabalho foi iniciado: recuperação de mata ciliar, tratamento correto de esgotos domésticos perto de nascentes, medidas para impedir a contaminação de nascentes por rebanhos, construção de pontes e de tanques para estoque de dejetos de rebanhos. Os fazendeiros locais passaram a ser tratados como parceiros, sendo financeiramente recompensados por cuidar das nascentes. Além disso, nessas propriedades foram impostas algumas restrições para o uso dos recursos naturais e na forma dos manejos agrícolas.
        O resultado foi que hoje a cidade tem água abundante, vinda direta de nascentes das montanhas, com um tratamento extremamente simples e barato: filtragem e desinfecção. Estima-se que Nova York economize anualmente US$ 300 milhões com o programa e tenha economizado outros US$ 10 bilhões por não precisar construir grandes grandes estações de reserva e tratamento de água.

O Projeto de Extrema

       Está enganado quem pensa que em território nacional não existe nada parecido. Apesar de ainda tímidas, existem iniciativas parecidas. A Agência Nacional de Águas - ANA, possui o Programa Produtores de Água, que recompensa projetos que visem à redução de erosão e assoreamento de mananciais no meio rural. A adesão ocorre de maneira voluntária. A remuneração, que deve ser proporcional ao trabalho ambiental realizado, é intitulada de Pagamento por Serviço Ambiental - PSA.
       O programa tem sido aplicado na cidade de Extrema - MG, por meio do Projeto Conservador de Águas. Lançado em 2005, o projeto tem tido tanto sucesso que já foi, inclusive, reconhecido e premiado pela ONU em 2012. Foram recuperadas matas ciliares de nascentes, construídas bacias de contenção de águas pluviais e instalados sistemas de tratamento de esgotos nas residências rurais. Os produtores participantes também têm recebido remuneração por PSA.
       As águas produzidas em Extrema abastecem também a São Paulo. Segundo o IPEA, o sistema que as recebe, o Cantareira, tem um custo 5 vezes menor de tratamento de água quando comparado com o outro sistema que abastece a Grande São Paulo, o Guarapiranga. A razão é a alta qualidade da água vinda de Extrema.
       Como prova final de eficácia, é importante dizer que a crise hídrica que tem atingido a região sudeste não tem afetado o município de Extrema. A cidade não tem tido o seu abastecimento afetado e não tem faltado água para os produtores locais. 
       A lição que fica, observando o caso de Extrema e de Nova York, é que uma cidade utilizar soluções inteligentes para resolver seus problemas não implica grandes custos financeiros ou operações mirabolantes. Tudo pode ser simples e gerar economia financeira e bem-estar social. 


Mananciais da Serra - Piraquara (PR) - Foto: André Filgueira