quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 O ESTUPRO CULPOSO NO CASO MARIANA FERRER: Clickbait?


Se quiser prosseguir na leitura abaixo saiba que não é uma defesa de mérito do processo, não é um juízo se o instrumento legal utilizado foi correto, não é uma defesa do sistema judiciário, não é uma defesa ao que aconteceu na audiência, não é uma defesa à qualidade das leis, não é uma defesa às práticas presentes na sociedade. Trata-se de uma análise pontual sobre jornalismo e sua relação com o direito penal e sobre os seus impactos, tendo como fonte uma matéria jornalística e os autos da sentença proferida.

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    O jornalismo, minha área de formação, tem méritos e deméritos. Muito mais méritos, do que deméritos. Os deméritos são pequena parte, decorrência do fator humano da atividade. Afinal, toda atividade e toda instituição é afetada pelo fator humano. 

Nessa ocasião, tratarei de um demérito, de um veículo que, geralmente, traz boas reportagens. Ao tratar dos óbvios absurdos ocorridos na audiência judicial de Mariana Ferrer, o Intercept Brasil usa o título: “𝘑𝘜𝘓𝘎𝘈𝘔𝘌𝘕𝘛𝘖 𝘋𝘌 𝘐𝘕𝘍𝘓𝘜𝘌𝘕𝘊𝘌𝘙 𝘔𝘈𝘙𝘐𝘈𝘕𝘈 𝘍𝘌𝘙𝘙𝘌𝘙 𝘛𝘌𝘙𝘔𝘐𝘕𝘈 𝘊𝘖𝘔 𝘚𝘌𝘕𝘛𝘌𝘕Ç𝘈 𝘐𝘕É𝘋𝘐𝘛𝘈 𝘋𝘌 ‘𝘌𝘚𝘛𝘜𝘗𝘙𝘖 𝘊𝘜𝘓𝘗𝘖𝘚𝘖’....”.
    Ao final da matéria consta uma atualização: “𝘈 𝘌𝘟𝘗𝘙𝘌𝘚𝘚Ã𝘖 ‘𝘌𝘚𝘛𝘜𝘗𝘙𝘖 𝘊𝘜𝘓𝘗𝘖𝘚𝘖’ 𝘍𝘖𝘐 𝘜𝘚𝘈𝘋𝘈 𝘗𝘌𝘓𝘖 𝘐𝘕𝘛𝘌𝘙𝘊𝘌𝘗𝘛 𝘗𝘈𝘙𝘈 𝘙𝘌𝘚𝘜𝘔𝘐𝘙 𝘖 𝘊𝘈𝘚𝘖 𝘌 𝘌𝘟𝘗𝘓𝘐𝘊Á-𝘓𝘖 𝘗𝘈𝘙𝘈 𝘖 𝘗Ú𝘉𝘓𝘐𝘊𝘖 𝘓𝘌𝘐𝘎𝘖. 𝘖 𝘈𝘙𝘛Í𝘍𝘐𝘊𝘐𝘖 É 𝘜𝘚𝘜𝘈𝘓 𝘈𝘖 𝘑𝘖𝘙𝘕𝘈𝘓𝘐𝘚𝘔𝘖. 𝘌𝘔 𝘕𝘌𝘕𝘏𝘜𝘔 𝘔𝘖𝘔𝘌𝘕𝘛𝘖 𝘖 𝘐𝘕𝘛𝘌𝘙𝘊𝘌𝘗𝘛 𝘋𝘌𝘊𝘓𝘈𝘙𝘖𝘜 𝘘𝘜𝘌 𝘈 𝘌𝘟𝘗𝘙𝘌𝘚𝘚Ã𝘖 𝘍𝘖𝘐 𝘜𝘚𝘈𝘋𝘈 𝘕𝘖 𝘗𝘙𝘖𝘊𝘌𝘚𝘚𝘖.”  

    A expressão “estupro culposo” ganhou diversos outros veículos e as redes sociais. A frase, que, apesar da justificativa, foi criada pelo Intercept como sendo a conclusão do processo, virou verdade quase absoluta.

    O pior é que a expressão nem serve para explicar para leigos, pois está errada do ponto de vista técnico. Tanto a tese do MP, como uma das partes dos motivos do juiz que justificam a absolvição, apenas falam em “erro de tipo essencial evitável”, uma ferramenta legal que exclui um dos elementos que constituem o tipo penal. A consequência seria a exclusão do caráter doloso da conduta, podendo, se houvesse previsão legal, a condenação em caráter culposo. 𝑼𝑴𝑨 𝑬𝑿𝑷𝑳𝑰𝑪𝑨ÇÃ𝑶 𝑺𝑰𝑴𝑷𝑳𝑬𝑺 𝑷𝑨𝑹𝑨 𝑳𝑬𝑰𝑮𝑶𝑺 𝑺𝑬𝑹𝑰𝑨 𝑫𝑬 𝑸𝑼𝑬 𝑨 𝑨𝑩𝑺𝑶𝑳𝑽𝑰ÇÃ𝑶 𝑶𝑪𝑶𝑹𝑹𝑬𝑼 𝑷𝑶𝑹 𝑭𝑨𝑳𝑻𝑨𝑹 𝑼𝑴 𝑫𝑶𝑺 𝑬𝑳𝑬𝑴𝑬𝑵𝑻𝑶𝑺 𝑱𝑼𝑹Í𝑫𝑰𝑪𝑶𝑺 𝑫𝑶 𝑪𝑹𝑰𝑴𝑬 𝑫𝑶𝑳𝑶𝑺𝑶. Ou simplesmente, a absolvição ocorreu pela lei não alcançar o fato praticado. Ou, que o juiz ficou em dúvida com as provas apresentadas. Isso não implica dizer que o crime teve a qualificação alterada para culposo. A questão é simples, se não existe previsão de crime culposo, esse crime não existe. 

    Pode-se achar absurdo essa solução ao olhar o caso em tela. Mas este, pelos autos, não é um caso fácil, a lei tem dificuldades em achar uma solução adequada que puna abusadores e não condene inocentes. Existem julgados de casos mais simples, concluindo pela mesma tese, quando outros elementos do crime (talvez mais simples) estão em jogo, como a idade da vítima.

    Indo ainda mais fundo na sentença a verdade é que o julgamento terminou com o juiz considerando que as provas não eram suficientes para decidir pela caracterização de todos os elementos do tipo penal.. 

    O meu ponto é que na ânsia de promover justiça (ou talvez de se utilizar de click-bait) o Intercept Brasil criou uma ficção. E esta ficção tem sido replicada por diversos outros veículos, como se a “verdade” fosse deles. E a ficção é replicada por diversos outros influencers, políticos e, por fim, cidadãos comuns. 

    No fundo, ninguém e nada ganha com a criação da versão de que o acusado cometeu “estupro culposo”. Os desdobramentos legais do caso serão julgados afetados pela inflamação da opinião pública, podendo causar um possível julgamento errôneo, o fato (a ficção) será utilizada para desmerecer a versão da vítima ao confrontar com as informações constantes na sentença, instituições seguem mais desmoralizadas e o jornalismo será manchado, acusado de ser propagador de fake news.

    Em tempo, a Itália demonstrou uma solução muito boa para esses tipos de casos. Para conseguir denunciar o jogador Robinho por estupro em situações muito similares a deste caso, a justiça autorizou a instalação de escuta telefônica e ambiental, esta no carro do jogador. Desta maneira conseguiu coletar indícios suficientes para desmontar qualquer versão de erro de julgamento do acusado.




sexta-feira, 11 de maio de 2018

Sustentabilidade - A água de Nova York e de Extrema

A água de Nova York e de Extrema

Garantir recursos básicos, como água potável, é uma das premissas de uma cidade inteligente

      Há muito se sabe que o petróleo corre riscos de acabar, o mesmo ocorre com a água para consumo humano. Mas, ao contrário do que ocorre com o petróleo, não é possível diminuir a quantidade de água que os humanos bebem, nem criar uma nova substância que mate a sede. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem divulgado relatórios informando que teremos falta de água potável em um futuro próximo. O último deles, apresentado em Março no Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos, aponta que até 2030, haverá um déficit de 40% de água potável.
       Ante às dificuldades enfrentadas recentemente em São Paulo, o estado mais rico da União,  o país viu que o problema da água é sério e atinge a todos, inclusive a população brasileira, que mora em um país que detém a maior reserva de água doce do planeta.
    Medidas para combater o desperdício são indispensáveis para aliviar o problema. Controlar vazamentos, instalar redutores de pressão nas residências, diminuir ou acabar com gastos supérfluos, reaproveitar água para tarefas que não demandam água potável. A Sabesp, empresa do governo paulista que faz a gestão da água no estado de São Paulo, por exemplo, realiza a redução de pressão nas tubulações da rede de distribuição desde 1997.
       Entretanto, especialistas têm apontado que para garantir água no futuro é necessário mais do que isso. Proteger o ciclo da água é essencial para garantir a água. E um dos principais passos é proteger a água e seus mananciais.

O exemplo de Nova York

       Dados da ONU mostram que os valores investidos na proteção de áreas de captação de água para consumo humano geram uma economia de 200% em gastos com tratamento de água. Ou seja, é muito mais vantajoso cuidar da água no início do seu ciclo do que no final.
       Esse foi o caminho adotado por Nova York. No início da década de 90, enfrentando problemas para obtenção de água, iniciou um amplo programa para recuperação de nascentes, muitas delas localizadas a 200 km de distância da cidade.
       Fechou parceria com proprietários de terras e também adquiriu nascentes. Um grande trabalho foi iniciado: recuperação de mata ciliar, tratamento correto de esgotos domésticos perto de nascentes, medidas para impedir a contaminação de nascentes por rebanhos, construção de pontes e de tanques para estoque de dejetos de rebanhos. Os fazendeiros locais passaram a ser tratados como parceiros, sendo financeiramente recompensados por cuidar das nascentes. Além disso, nessas propriedades foram impostas algumas restrições para o uso dos recursos naturais e na forma dos manejos agrícolas.
        O resultado foi que hoje a cidade tem água abundante, vinda direta de nascentes das montanhas, com um tratamento extremamente simples e barato: filtragem e desinfecção. Estima-se que Nova York economize anualmente US$ 300 milhões com o programa e tenha economizado outros US$ 10 bilhões por não precisar construir grandes grandes estações de reserva e tratamento de água.

O Projeto de Extrema

       Está enganado quem pensa que em território nacional não existe nada parecido. Apesar de ainda tímidas, existem iniciativas parecidas. A Agência Nacional de Águas - ANA, possui o Programa Produtores de Água, que recompensa projetos que visem à redução de erosão e assoreamento de mananciais no meio rural. A adesão ocorre de maneira voluntária. A remuneração, que deve ser proporcional ao trabalho ambiental realizado, é intitulada de Pagamento por Serviço Ambiental - PSA.
       O programa tem sido aplicado na cidade de Extrema - MG, por meio do Projeto Conservador de Águas. Lançado em 2005, o projeto tem tido tanto sucesso que já foi, inclusive, reconhecido e premiado pela ONU em 2012. Foram recuperadas matas ciliares de nascentes, construídas bacias de contenção de águas pluviais e instalados sistemas de tratamento de esgotos nas residências rurais. Os produtores participantes também têm recebido remuneração por PSA.
       As águas produzidas em Extrema abastecem também a São Paulo. Segundo o IPEA, o sistema que as recebe, o Cantareira, tem um custo 5 vezes menor de tratamento de água quando comparado com o outro sistema que abastece a Grande São Paulo, o Guarapiranga. A razão é a alta qualidade da água vinda de Extrema.
       Como prova final de eficácia, é importante dizer que a crise hídrica que tem atingido a região sudeste não tem afetado o município de Extrema. A cidade não tem tido o seu abastecimento afetado e não tem faltado água para os produtores locais. 
       A lição que fica, observando o caso de Extrema e de Nova York, é que uma cidade utilizar soluções inteligentes para resolver seus problemas não implica grandes custos financeiros ou operações mirabolantes. Tudo pode ser simples e gerar economia financeira e bem-estar social. 


Mananciais da Serra - Piraquara (PR) - Foto: André Filgueira


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Solução eficaz para problemas


"Certas situações na vida não têm explicação, nem solução. Mas elas são minoria." 


           Ocorre de nos vermos em uma situação que não pedimos. Algumas realmente não provocamos nem vimos como aconteceu, em outras permitimos que acontecessem. Só creio ser um grande problema quando percebemos o que vai acontecer e ainda assim damos causa, forçamos o prosseguimento. Contraditório, por demais.
           Depois, já com os frutos da complicação, temos dois caminhos lógicos a seguir: entrar fundo e se complicar ainda mais ou buscar um jeito de se libertar. Outros preferem seguir no caminho complicado, em meio a problemas e reclamações. 
         Geralmente existem diversas saídas das enrascadas em que nos metemos. Vê-las depende de inteligência, capacidade emocional, sinceridade e coragem. Desse rol, que é muito mais exemplificativo do que taxativo, é importante frisar a coragem. 
         Acredito que seja essencial ser corajoso, pois dificilmente a pessoa sairá incólume. Vejo as complicações da vida como uma armadilha com fisga. Ao adentrar, já se sente os efeitos, agora para sair, meu amigo, vai doer muito. E deixará muitas cicatrizes.
           Por isso, o melhor a fazer é se prevenir. Antes de pisar em qualquer terreno, observe outros que já entraram. Se ainda assim achar que vale a pena, coloque um pé primeiro, vá aos poucos. Não seja a causa de sua própria dor.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Star Wars e o equilíbrio da força

     Certo, sem novas informações sobre a hexalogia. Nada sobre um aprendiz secreto de Darth Vader ou como surgiu a ordem Sith. Vou apenas tecer uma crítica sobre o mega-sucesso, e, como é mais fácil "detonar" que elogiar, será uma crítica negativa. Ou, de outro ponto de vista, mostrar um deslize. Mãos a obra!
     Não sou nenhum super-fã, apenas me interessei recentemente e devorei os 6 episódios, sites sobre Star Wars, e opiniões de outras pessoas. Então, estou muito sujeito a errar. Aliás, sempre estou.
     Sem tocar em questões mais básicas, como o fato de não existir som no espaço, vou apenas falar sobre equilíbrio.
    Definição de dicionário, equilíbrio é quando atuando duas forças contrárias, estas se anulam. A "pira" de Star Wars é exatamente re-estabelecer o "Equilíbrio da Força".
      É aí que eu bato. A história começa após os siths terem sidos extintos. Os Siths representavam o lado negro da força, o mal. Ou sejam, a equação estava desiquilibrada. Apenas o "lado bom" estava representado, não existia a anulação. Então surge um novo Darth (contração de Dark Lord of The Sith) que na verdade estava escondidinho. Palpatine.
       Aeeee! Existe equilíbrio na força! Pronto!
      Negativo... Luke e Yoda querem "re-estabelecer" o equilíbrio da força. Entenda essa frase como acabar com os Siths.
       No final eles conseguem (ah, sério?) e todos os Siths são mortos.
     Tudo bem. Mas isso não é equilíbrio. Na verdade é um puta desequilíbrio. O lado Jedi da força ficou com tudo. Tá certo isso não!






Nota do escritor: Escrevi este texto em 2011 e publiquei apenas em 2015. Agora sou um puta fã e nem tenho certeza se concordo com o que escrevi. Abraço.






sábado, 11 de julho de 2015

       Eu sou um idelista. Tenho consciência disso. E, de uma certa forma, orgulho-me. Idealizo um mundo onde pessoas são boas, onde ideais e um mundo ideal funcionam. Gostaria que o mundo fosse algo mais padrão, mais uniforme.
       A decepção é inevitável. Somos dados a paixões. Nossa alma é corrupta, por natureza. Nossa natureza é corrupta. Traio meus ideais. Também tenho consciência disso. Outrora dizia Paulo: O bem que almejamos não conseguimos fazer,  em seu lugar fazemos o mal que não queremos.
      Por diversas vezes senti a dor do mal, por vezes involuntário, por outras deliberado, jogada contra mim. Por outras vezes senti a dor – e esta muito mais cortante – da minha própria maldade.
      Por que o mundo não pode ser um lugar ideal e razoável? Não faço ideia da resposta. Não sei se temos algo a aprender com isso, não sei se existe razão.

     Tudo o que posso tirar  da minha consciência sobre isso, é tentar racionalizar tudo.E sempre lembrar: não vivo em um mundo ideal. Não posso querer soluções e resoluções ideais.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Divergências jornalísticas - Assuerio Silva

   Decidi escrever sobre as divergências que encontro sobre o mesmo assunto em diferentes veículos de comunicação. Tenho por  hábito assistir jornais televisivos de duas ou três emissoras diferentes e sempre vejo muitas diferenças. 
   Vamos ao primeiro caso:

   A notícia, de 30/01/2013, era que Assuerio Silva, um ex-lutador de MMA e dono de academia em Curitiba, foi baleado quando fechava seu estabelecimento, mas sobreviveu.


   O Jornal da Record informou que o ex-lutador foi atingido por sete tiros. O suposto agressor foi identificado pela vítima e preso. Com ele foi encontrada uma arma que será submetida a perícia.


   O Paraná Tv 2ª Edição, da RPC, informou que Assuerio foi baleado seis vezes e o suposto agressor foi preso com munição de revólver.

Veja os vídeos:

Record
http://r7.com/RShv

RPC
http://g1.globo.com/videos/parana/t/paranatv-2a-edicao/v/esta-fora-de-perigo-ex-lutador-de-mma-baleado/2376734/


   O que me assusta é a precisão de algumas informações divergentes: a arma SERÁ periciada, a munição é de REVÓLVER!


   Esse foi um dos casos mais leves, logo publicarei mais. 
  
Conselho? Cuidado com a imprensa.



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

I started a Joke - Execução por André Filgueira

Versão da música "I started a joke" simploriamente interpretada por mim, André Filgueira, em meu 
humilde clarinete Weril.